23 de nov. de 2015

A PASTA DE DENTE

Semanas atrás uma amiga veio me visitar e me pediu pra usar o banheiro, eu apontei a porta, ela entrou e alguns minutos depois, levantou a voz lá de dentro:

 - Jú, sabia que apertar o tubo da pasta de dente no meio é sinal de que você é bastante avoada? Quis muito rir, mas apenas perguntei:
- Ãhn? Como assim?
- É que, uma vez, eu li no Facebook que o nosso tubo de pasta de dente pode dizer muito sobre a vida da nossa família - Ela disse enquanto enxugava as mãos e sentava no sofá - E como você é a única que usa esse tubo, ele pode dizer muito sobre você.
Ainda segurando a risada, fiz um sinal com as mãos para que ela continuasse a teoria.
- Por exemplo… Eu tenho uma filha de quatro anos, certo? - Concordei com a cabeça - Eu e o pai dela estamos tentando ensina-la a fazer as coisas sozinha, e isso inclui escovar os dentes, logo, o tubo da pasta lá de casa está sempre contorcido e com um monte de conteúdo vazando, exemplificando a bagunça que está a nossa rotina. Como era quando você morava com seus pais?
Confesso que tive que fazer um esforço para puxar na memória como era, entre tantas coisas, o tubo da pasta de dente do banheiro dos meus pais.
- Meu pai, no auge de seus 50 anos de perfeccionismo, sempre dobrava a base do tubinho, para que a pasta ficasse sempre próxima ao buraquinho que ela tem pra sair… - Eu disse, depois de algum tempo tentando montar o quebra-cabeça mental de memórias.
- Você mesma disse, perfeccionismo, e praticidade. Coisa que eu sei, te conhecendo a todo esse tempo e julgando pelo seu tubo, que você não herdou dele. 
Depois que ela foi embora, ao escovar os dentes antes de dormir, fiquei encarando aquele tubo esmagado ao meio e pensando se aquela teoria de rede social poderia realmente significar algo.. De fato nossos hábitos mudam de acordo com as nossas fases, o modo como levamos nossa rotina… Tudo em nós muda o tempo todo, e ta aí a graça de todas as coisas: essa constante mudança.
O meu tubo não é sempre esmagado, minha vida não é sempre uma bagunça louca e eu não sou sempre tão avoada. Aos domingos, o dia oficial da faxina aqui em casa, eu sempre dobro a base, numa tentativa de ser mais prática e menos bagunceira. Não dura muito, mas sempre volta a acontecer, uma variação constante, uma mudança louca. 

2 de nov. de 2015

SE VOCÊ NÃO QUER QUE ALGUÉM SAIBA: ESCREVA

Se queres manter um segredo, escreva um texto longo sobre isso, dê sua opinião várias vezes e ninguém te dará atenção. 
Meus segredos saem em forma de poesia. 
Primeiramente porque as faço mal e porcamente - digo de passagem que a culpa é de Carlos Drummond, aquele gauche da vida, seus poemas me enchem tanto que não sobra espaço para os meus próprios…
Depois digo que, talvez principalmente, porque nós, criadores de conteúdo e sobre tudo escritores, temos uma pequena grande dádiva, a qual eu chamo de bênção. A tal da licença poética. 
Em uma poesia com total licença, o ‘mim’ que conjuga o verbo é o mesmo que sai de biquíni no inverno Russo. É errado e não faz sentido, mesmo assim, afirmo com certeza que não é impossível- e posso te contar um segredo? Quase sempre é assim. 
Está aí a graça de expor seus segredos em versos e estrofes. O errado, o inusitado, o secreto, o possível e o impossível, todos se juntam em um só. 
Faz uma poesia linda. 
Vez ou outra sai até um poema, daqueles grandes, só pra manter o segredo.