25 de set. de 2013

O TREM

A tal luz no fim do túnel foi decifrada. Era só um trem desgovernado.
Simples assim. Um trem que ninguém sabe de onde veio, nem pra onde vai. Para ser mais sincera do que deveria... Creio que nem o próprio condutor sabe... Ele só está se divertindo pelo caminho, esse caminho com mais de doze mil e cem destinos a cada curva que passa.
Engraçado pensar que a solução pra todos os nossos problemas (ou a luz no fim do túnel, como vocês preferirem) somos nós mesmos. Nos cansamos de procurar em lugares e pessoas soluções que só nós temos.
É tudo sobre como vemos as situações, como já comentei por aqui, algumas formas de encarar um problema pode acabar virando outro e assim sucessivamente. Porém, o ponto de hoje é que, às vezes, a solução pra tudo está mais perto do que imaginamos e não nos permitimos enxergar isso.
Talvez o problema, na verdade, seja abrir os olhos para aquilo que não queremos ver.

18 de set. de 2013

SOB(RE) CONTROLE

Essa semana resolvi trocar de lugar algumas certezas e também alguns móveis.
Sempre quando estou incomodada com algo que não sei como resolver, mudo algum móvel do meu quarto de lugar. Uma filosofia meio Feng Shui que funciona, a energia corre diferente pelo meu canto preferido da casa e me ajuda a achar uma solução.
Dessa vez, a minha bagunça mental foi tanta que me rendeu quadros, móveis e prateleiras novas, tudo segurado pelo fio de esperança de estar no controle da situação novamente.
Nunca fui mimada, mas se tem uma coisa que me tira do sério é perder o controle, não só o da televisão mas também o da minha vida, quando as coisas vão além de onde eu posso guia-las, o mini-desespero bate e lá vou eu arrastar o guarda-roupa e a escrivaninha.
Durante esse meu período de organização, sempre que me perguntavam como estavam as coisas, eu respondia com um simples: Está tudo sob controle.
Mas na verdade... O que eu realmente sei sobre o controle? Sou impulsiva, troco facilmente um prato de salada por uma barra de chocolate e isso não me parece tão errado.
O ponto onde quero chegar, é que querer ter o controle é diferente de te-lo de fato.
Talvez o problema seja que é tudo sobre o controle.

11 de set. de 2013

A GRAMA DO VIZINHO

Quem me conhece sabe que organização com certeza não é meu forte.
Consigo enxergar o chão do meu quarto por completo apenas uma vez por semana, meus textos estão espalhados por todos os cantos da casa e do meu computador e nem vou entrar nos detalhes sórdidos da minha mesa e gavetas no trabalho. Chega a ser constrangedor, mas, por algum motivo, eu não consigo mudar.
Vi em algum lugar um pesquisa que diz que uma mesa de trabalho bagunçada, ajuda no raciocínio e desempenho, uma vez que várias idéias estão espalhadas à sua frente, é mais fácil pensar nelas. Não sei se foi apenas para mim que isso fez total sentido, já que sou uma bagunceira assumida, mas essa ideia de olhar os problemas de fora para procurar uma solução parece legal, porém, como tudo, tem seus dois extremos.
O olhar de fora pode nos levar a uma solução genérica, sem levar em conta pontos importantes de decisões que deveriam ser tomadas, mas quando estamos presos dentro do problema, nos cegamos pela ânsia de resolve-los.
Julgar a grama do vizinho parece sempre mais interessante do que pegar o cortador e tentar fazer algo pelo nosso próprio jardim.
Talvez o problema seja que tudo fica mais fácil a coragem que uma certa distância nos dá.

4 de set. de 2013

RESUMO

Começamos em tom de brincadeira, você brincando de gostar de mim e eu brincando de acreditar, não lembro quando foi que comecei a levar a sério, mas te confesso: O medo de ter sido a única de nós a ter feito isso, me consome até hoje. 
Sei que deve saber como estou enquanto te escrevo agora, deve saber que estou com o cabelo bagunçado, sentada no chão do quarto e a única luz e que me ilumina é a que vem da tela do computador. Minhas unhas estão roídas e o esmalte já está pela metade, estou usando a camiseta da minha banda favorita, aquela que te fiz escutar algumas músicas, um short, aquele que você sempre reclama do comprimento, e minhas pantufas em forma de bolas de futebol. 
É engraçado, como tudo isso, de alguma forma, me faz lembrar você. Me lembro de quando acordávamos juntos no sábado de manhã e você fazia questão de implicar com o meu cabelo e da bagunça do meu quarto, lembro também das brigas que travamos até você entender o meu lado “garota” de querer fazer as unhas toda à sexta-feira e o meu lado apaixonado de querer passar as noites de quarta-feira na frente da televisão, pelo futebol. “É perda de tempo, guria. E é injusto também, ganham milhões para ficarem correndo 90 minutos atrás de uma bola. E os que ganham para ficar no banco então? Não vejo sentido.” Era sempre o seu discurso e logo seguia um “Não poderemos nos casar se for desse jeito” que você fazia questão de soltar com uma risada depois. Só para deixar mais claro que não falava sério.
Sempre quis te dizer que seria capaz de abrir mão do Corinthians por você, mas o nosso tipo de relacionamento, não permitia verdades tão explicitas, e eu nunca pensei em te dizer isso em tom de brincadeira, simplesmente não saia.
Mas talvez fosse melhor assim…
Você nunca me cobrou amor, fidelidade e nem atenção, e em troca, eu fiz o mesmo, ou pelo menos tentei. Então ficávamos assim, passávamos horas conversando sobre nada, contando histórias e fazendo o tempo voar. Uma noite, o telefone tocou, era você. Eu pude saber disso antes mesmo de olhar para o celular. A sua música preferida invadiu meu quarto e ecoou pelas paredes, eu sorri.
- Alô.
- Oi am… – Você parou por alguns milésimos de segundo - Oi, sou eu. 
Respirei fundo, fingi não me importar, mas consegui ouvir o teu silêncio gritando arrependimento pelo modo como me chamou, deixei passar, fiz que ouvi um “Oi, guria” e troquei de assunto o quanto antes.
Acabamos nos aproximando mais do que o necessário. Mais do que as nossas regras permitiam. Lembro de ter comentado que me sentia sozinha, e você de repente apareceu, me oferecendo companhia. Hesitei por algum tempo, fiquei insegura e sabia que algo ia mudar entre nós se te permitisse, mas fiz. Te deixei ficar e você acabou arrumando um espaço do meio da bagunça que estava a minha vida, se acomodou e eu não me incomodei. 
Até que você resolveu me organizar, resolveu que colocaria borboletas no meu estomago toda vez em que eu ouvisse sua voz ou visse seu sorriso, e que me arrepiaria ao lembrar de você. Você me organizou depois me bagunçou mais, depois me organizou do jeito que achava certo, do jeito que queria que ficasse. Mas aquilo tudo era novo e complicado demais pra mim, eu não soube dosar.
Fingia entender, para que nós pudéssemos nos gabar da nossa maneira autossuficiente de se relacionar e rir dos casais a nossa volta. Mas a verdade é que, desde que você apareceu, eu já não entendia muita coisa, sabia que gostava de você, do jeito que enchia as bochechas quando comia e da dobrinha que aparecia no seu rosto quando você sorria. O que realmente não entendia, era o que se passava na sua cabeça, e isso me tirava o sono.
Queria poder dizer mais sobre você, mas meu conhecimento se resumia em: Ele gosta de carros, não sabe usar hashis para comer e é preguiçoso como uma tarde de domingo. Você não se abria comigo, me contava muito pouco sobre seus medos, não creio que fazia de propósito, mas é o seu jeito e eu, de novo, finjo entender.
Por isso eu te digo, não soube como te dosar. Quis muito de alguém que tinha pouco a me dar. Não te culpo. Sei que te fizeram mal e você culpa a todas pelo erro de uma, deve ter um motivo. Te conheço e sei da sua história o suficiente pra saber que teu motivo ainda anda por aí, te rondando. E mais uma vez, eu finjo entender.
Então, na verdade, acho que começamos assim, em tom de brincadeira, você brincando de gostar de mim como quem realmente precisa de alguém que o entenda por perto, e eu brincando de acreditar, fingindo entender e desejando muito, muito mesmo, que tudo fosse verdade