30 de abr. de 2014

O JUÍZO

Meu dente do siso começou a nascer dois dias depois de eu ter completado dezoito anos, neste último final de semana, e toda a felicidade que eu estava sentindo deu lugar a uma dor irritante e insuportável.
Chorei, fiquei brava, xinguei minha pobre dentista inúmeras vezes sem saber o que estava acontecendo (fica aqui meu pedido de desculpa para Dra. Cleusa, sei que não foi fácil me suportar) até que, na tarde de segunda-feira, me deram parabéns e boas-vindas a vida adulta: Meu "dente do juízo" está se formando.
Chatisse - foi a primeira coisa que pensei. Quem disse que é um dente que me trará juízo? Ou melhor, quem foi que disse que eu já não tenho juízo?
Talvez essa ultima pergunta seja respondida por inúmeros atos dos últimos dezoito anos que não vem ao caso nesse momento mas, querendo ou não, foram perguntas que martelaram em minha cabeça em meio a uma noite de insonia causada por esse dente.
Levantei as três da manhã e fui procurar saber porque isso tudo acontece, descobri que o siso é uma coisa extremamente desnecessária em tempos modernos, a dor é causada por uma questão de falta de espaço e leva esse nome que tanto me incomoda por "despontar" no inicio da fase adulta, quando, teoricamente, criamos o tal juízo.
Por fim, eu tomei alguns remédios para aliviar a dor e estou e stand-by para finalmente tirar isso de mim, não me levem a mal, mas não acho justo com minha independência, que acabou de começar, já ser presa por esse maldito siso que não foi nem um pouco bem-vindo.

23 de abr. de 2014

PARA O MEU CLÁSSICO

Olá, estranho.
Soa engraçado que, depois de 366 dias (completos nessa quarta-feira que se iniciou chuvosa), eu só saiba o seu nome?
Queria não falar sobre isso hoje, mas é difícil, afinal, somos nós, é pano pra manga que não acaba mais, mas disso só a gente sabe. 
O que eu queria te dizer é que eu tô bem, acho que depois de tanto tempo eu finalmente entendi que você não era a solução, você só era a parte bonita do problema, aí fazia tudo parecer mais fácil quando estava por perto. 
Ontem eu lembrei de você, li uma frase que resumiu todo esse nosso último ano: 
"Tem tudo pra dar certo, mas a gente só sabe fazer dar errado."
A gente fez tudo errado, desde o principio até aquele último abraço sem jeito. Nós fomos uma montanha russa, daquelas que dão o melhor tipo de frio na barriga no começo, mas depois assustam, assustam porque na verdade, você não espera cair, sempre tem aquele pingo de esperança que a brincadeira vai ser só uma subida infinita, mas não é, e quando o primeiro carrinho caí, o resto vai junto, é pura física. 
Então a física fez seu papel, o destino também e tudo que estava indo direito, de repente, numa curva acentuada e mal sinalizada, foi para esquerda e assim a gente se perdeu. 
Eu e você não éramos mais nós, e pouco tempo depois, você virou vocês. Virastes plural e eu me reservei no singular, quando penso nisso, sinto uma parcela de culpa, as crônicas/contos/cartas agora parecem um incomodo, aquela coisa chata que te puxa pra um passado que você não se importa mais e não quer mais viver.
Mas você se lembra aquela coisa de "se você pula, eu pulo" do filme Titanic? É difícil resistir, é um clássico, clássicos valem a pena serem lembrados, assim como você. 

16 de abr. de 2014

ABSTINÊNCIA CRIATIVA

Achei que tinha desaprendido a escrever, parecia que tudo me passava a cabeça mas nada ficava, até que ouvi, no meio de uma discussão, a seguinte frase:
O teu problema é que você escreve de mais.
Não vem ao caso agora o motivo real dessa discussão, mas uma coisa levou a outra e tudo acabou sendo sobre eu me expressar melhor com a escrita do que com a fala, o que é, sem sombra de dúvidas, pra quem me conhece, um fato.
Logo depois desse episódio, fiquei vinte e três longos dias sem conseguir criar nada, comecei então a inventar desculpas para isso, culpei a falta de tempo, o final de semana conturbado, a matéria atrasada, mas nada disso justificou.
Escrevi de menos pra ver se o problema diminuía, mas obtive o efeito contrário, um novo problema nasceu, cultivei um bloqueio criativo.
Percebi que perdi 552 horas úteis, poderia ter escrito um livro, um poema, uma frase, mas não fiz nada, n-a-d-a, saldo zero, chorei, esperneei, rezei, tomei banho com sal grosso, corri, ouvi música, vi filmes, mas nada acendia a luz no fim do túnel, todos os dias eu pegava um papel e uma caneta, escrevia "talvez o problema seja" e não saia mais nada, e depois de muito insistir, lembrei que há tempos atras tinha lido em algum lugar que persistir em algo que não está funcionando no momento é como calçar sapatos apertados: machuca (e muito).
A falta de inspiração, que segue este mesmo caminho, me fez recorrer a antigos assuntos, quis escrever sobre meus antigos amigos, sobre a minha falecida avó e sobre meu ex-namorado, quis até calçar aquela Melissa de número 36 que está guardada no guarda-roupa por nenhum motivo especial, quis formar calos e expor feridas que já tinham cicatrizado, decidi que o melhor mesmo era ficar descalça e esperar, um bom vento traria a escrita de volta para mim.
Foi o que aconteceu, o frio e a escrita voltaram juntos pra mim, eu vesti minhas meias e minha pantufa e, de repente, foi como se os últimos dias não tivessem existido, tudo fluiu, o problema, finalmente acabou.