16 de abr. de 2014

ABSTINÊNCIA CRIATIVA

Achei que tinha desaprendido a escrever, parecia que tudo me passava a cabeça mas nada ficava, até que ouvi, no meio de uma discussão, a seguinte frase:
O teu problema é que você escreve de mais.
Não vem ao caso agora o motivo real dessa discussão, mas uma coisa levou a outra e tudo acabou sendo sobre eu me expressar melhor com a escrita do que com a fala, o que é, sem sombra de dúvidas, pra quem me conhece, um fato.
Logo depois desse episódio, fiquei vinte e três longos dias sem conseguir criar nada, comecei então a inventar desculpas para isso, culpei a falta de tempo, o final de semana conturbado, a matéria atrasada, mas nada disso justificou.
Escrevi de menos pra ver se o problema diminuía, mas obtive o efeito contrário, um novo problema nasceu, cultivei um bloqueio criativo.
Percebi que perdi 552 horas úteis, poderia ter escrito um livro, um poema, uma frase, mas não fiz nada, n-a-d-a, saldo zero, chorei, esperneei, rezei, tomei banho com sal grosso, corri, ouvi música, vi filmes, mas nada acendia a luz no fim do túnel, todos os dias eu pegava um papel e uma caneta, escrevia "talvez o problema seja" e não saia mais nada, e depois de muito insistir, lembrei que há tempos atras tinha lido em algum lugar que persistir em algo que não está funcionando no momento é como calçar sapatos apertados: machuca (e muito).
A falta de inspiração, que segue este mesmo caminho, me fez recorrer a antigos assuntos, quis escrever sobre meus antigos amigos, sobre a minha falecida avó e sobre meu ex-namorado, quis até calçar aquela Melissa de número 36 que está guardada no guarda-roupa por nenhum motivo especial, quis formar calos e expor feridas que já tinham cicatrizado, decidi que o melhor mesmo era ficar descalça e esperar, um bom vento traria a escrita de volta para mim.
Foi o que aconteceu, o frio e a escrita voltaram juntos pra mim, eu vesti minhas meias e minha pantufa e, de repente, foi como se os últimos dias não tivessem existido, tudo fluiu, o problema, finalmente acabou.

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