31 de jul. de 2013

A OUTRA METADE

Segundo a mitologia grega,os seres humanos foram criados originalmente com quatro pernas, quatro braços e dois rostos. Temendo o seu poder, Zeus os separou, condenando-os a passar suas vidas em busca por suas respectivas metades.
Descobri que a minha outra metade está sub-dividida em várias outras pequenas metades e todas elas eu encontrei dentro da mesma igreja no último sábado.
Meu irmão se casou nesse final de semana, foram incontáveis lágrimas e uma felicidade que não cabia em mim. O casório acabou juntando algumas partes da minha família que não via a muito tempo, primos e tios muito queridos que eu deixei de ter a sorte de ter em meu dia-a-dia quando me mudei.
Quando sentei para conversar com cada um, a medida que o tempo passava, eu me sentia mais completa, a saudade diminuía e a felicidade não parava nunca de aumentar.
Estavam todos lá, a família de minha mãe, com seu humor irreverente e a de meu pai, mais intimista do que se pode imaginar mas, cada uma do seu jeito, me completou, me deixou cheia de amor de verdade, aquele tipo de amor que dura depois de vendavais, aquele amor que eu sei que vai durar independente de qualquer coisa, aquele tipo de amor que simplesmente é.
Procurei problema nisso tudo e simplesmente não achei, o que eu achei foi motivação, um combustível para que eu tenha essas minhas pequenas metades próximas de mim todos os dias de novo.

24 de jul. de 2013

PÓS-GUERRA

A rodoviária de Curitiba estava caótica no último domingo. Eram ônibus atrasados, pessoas estressadas, muita gente junta e no meio de tudo, eu, apenas esperando a hora que aquilo iria acabar.
Sempre gostei de viajar a noite, não sei se são os desenhos que as sombras das luzes dos fários fazem no asfalto ou o fato de que as noites são longas e me dão mais tempo para pensar, mas algo no meio disso tudo me encanta.
Estava frio e, depois de três horas de espera, assim que escondi meu queixo no cachecol, me sentei na poltrona do ônibus e fiquei olhando para aquele cenário que mais se assemelhava ao de uma guerra.
De repente eu me conformei e de uma certa forma até me confortei com aquela situação, afinal eu também tinha acabado de passar por um período de guerra, uma guerra interna, mas não deixa de ser guerra.
Sentia toda aquela confusão dentro de mim. Aquele monte de gente sem saber para onde ir, qual caminho tomar para chegar ao destino que queriam, eram como eu. Eu estava ali sozinha, exatamente como estava quando lutei por algo que já não existia mais, foi no meio daquela bagunça toda que eu me dei conta que sou um campo pós-guerra, marcado por uma batalha longa e que resultou no fim de tudo que eu acreditava.
Talvez não seja tão ruim assim, quero dizer, quantas coisas já foram construídas em cima de campos de batalha?
O problema talvez esteja na memória, quase como viver em uma casa moderníssima que foi construída em cima dos destroços de uma guerra, é tudo sobre conviver com os fantasmas (dessa vez não tão camaradas).

NADA

A semana foi morna, sem muitos acontecimentos marcantes, continuei sem sentir nada por nada e nada me vinha na cabeça, nada que eu considere importante contar para alguns poucos leitores que tenho, embora eu escreva apenas para mim, opiniões de terceiros são sempre boas.
Mas dessa vez, a vontade de escrever era a mínima possível, então fui para meu ritual de inspiração, um banho gelado, um copo de suco de laranja e um ou dois episódios de Sex And The City. Desisti do banho no segundo em que a primeira gota caiu nas minhas costas. Vesti uma roupa qualquer e resolvi sair, fui até a sacada e sentei no chão. Não tive vontade de nada, mandei uma mensagem para um amigo pedindo socorro e uma luz para minha inspiração, também não funcionou, peguei um vinil antigo de Chico Buarque e deitei no chão da sala esperando por nada ou por um milagre.
Nada aconteceu. De repente nada a minha volta parecia interessante a não ser pela mosca que procurava por uma fresta aberta na janela.
E quando eu estava quase sem esperanças, eis que a justificativa me chacoalha por dentro:  Eu tenho tempo livre.
Há tempos venho pedindo aos céus algum tempo sem compromissos, algum tempo onde eu pudesse me permitir fazer absolutamente NADA e esse tempo finalmente chegou.
O grande problema é que, depois de tanto tempo sem tanto tempo, eu não sei mais o que fazer e acabo me permitindo a nada. Não tiro os pijamas, demoro longos minutos no banho e o principal problema: Não procuro problemas em nada.

10 de jul. de 2013

EXPECTATIVAS

O tempo livre de Sábado é sempre um problema. E foi na tarde de ócio do último sábado que acabei tendo uma conversa com uma amiga que não conversava a muito tempo. No fim da conversa ela me mandou uma foto nossa, tirada na primeira vez que viajamos juntas, quando tínhamos 10 anos e logo depois, disse que tinha um compromisso e se desconectou do Facebook.
Como eu já tinha feito tudo que estava no meu planejamento para aquela tarde chata, fiquei ali deitada, olhando para a foto de duas crianças gordinhas abraçadas em cima de uma pedra e rindo. 
Se, naquela época, alguém tivesse me falado que dali sete anos minha vida teria virado de ponta cabeça, eu não teria acreditado. Naqueles dias, ninguém me parou na rua e disse "Juliana, daqui 7 anos tudo vai mudar. Você vai reprovar um ano no colégio, vai mudar de cidade e essas pessoas que estão na sua rotina, não estarão mais. Seu irmão vai se casar, sua melhor amiga não será mais sua melhor amiga e terá um filho. High School Musical vai acabar e você não vai mais ver graça nas séries do Disney Channel. Você terá feito novas amizades, vai engordar horrores e trabalhar em um banco." E mesmo se tivesse feito isso, eu iria apenas rir.
Há 7 anos atrás, minha expectativa para o que seria a minha vida era grande. Grande até demais e eu, no meio de tanta coisa, acabei nadando contra a maré de tudo que queria ser.
Ainda não fiz nada de grandioso, acho que ficarei devendo isso para a Juliana de 7 anos atrás que achava que seria uma adolescente revolucionária. Porém, fiz pequenas coisas que mudaram o MEU mundo, e tentando olhar tudo isso de fora, já fiz uma grande diferença.
Expectativas são uma droga, principalmente quando são grandes de mais, assim raramente serão superadas. Minha mãe costuma me falar para parar de criar expectativas e começar a criar porcos, uma vez que se nada der certo, eu ainda posso ter bacon. Acho que ela leu isso em alguma página do Facebook, mas não deixa de ser engraçado.
O grande problema é que criar porcos em um apartamento é... Complicado. Então continuo com minhas expectativas.

3 de jul. de 2013

ESPARTA ALEGRE

Estranho mesmo é não sentir nada.
Nada dói, nada provoca riso, nada levanta o vôo das borboletas em meu estomago, nada me faz chorar. É como se fosse apenas uma caixa de ossos andando por aí, com o olhar percorrendo cada esquina mas sem encontrar nenhum ponto fixo.
Presto atenção no que dizem, mas não dizem nada que me interessa, então abstraio e me auto-abduso para outro mundo, o meu mundo.
Confesso que roubei Esparta Alegre de Humbeto Gessinger. Vivo fugindo pra lá quando as coisas na Terra ficam difíceis de aguentar...
Lá sou eu quem governa as coisas e, nos últimos 17 anos, não houve nenhum protesto para me tirar do poder, acho até que os Esparta-alegranos gostam de mim, ou pelo menos é isso que o jornal local diz. Lá sou escritora, com uma infinidade de livros escritos e artigos publicados.
É em E.A que vive o meu melhor fantasma. Gosto das visitas periódicas ao meu mundo, porque no momento em que o fantasma encontra minha caixa de ossos andante, tudo se encaixa, é como eles se pertencessem.
Sinto falta das férias prolongadas em Esparta Alegre...Talvez o problema seja que as passagens espaciais agora estão caras demais... Ou será só a falta de tempo?